Por Dani Miqueri
O que essas fotos tem em comum? Tudo! Ambas irão atrair olhares e surgirão dali pensamentos do tipo: "Essa menina tá gorda pra usar essa roupa, tá deixando ela ainda maior!" ou "Essa mulher já tá velha pra usar tanta coisa colorida, tinha que ter mais senso do ridículo".
Antes, quero dizer que o meu lugar é, sim, um lugar de fala porque sou fruto de cirurgia bariátrica e sei exatamente como é estar na pele de quem está acima do peso.
Esses dias recebi um comentário numa postagem (nada contra, foi educado e não me senti em nenhum momento desrespeitada) e achei importante tratar da questão que foi levantada: "Dani, essa saia te engordou!", algo mais ou menos assim.
Primeiro ponto: precisamos deter, diariamente, conceitos opressores que carregamos durante uma vida e que vem à nossa mente sempre que nos deparamos com algum acontecimento que nos remeta a eles.
O fato de determinada roupa causar um efeito visual que "engorda" ao invés de um efeito que "emagrece", incomoda muitas pessoas. E aí fico me questionando o motivo. Onde tá escrito que preciso vestir algo que me alongue ou afine a silhueta? Onde tá escrito que eu tenho que causar uma ilusão de ótica, de modo que sempre pareça mais magra e mais alta? Quer dizer, então, que ser baixa, gorda e ter pernas grossas é um defeito? É feio? É inaceitável? Quem falou que eu preciso ter um corpo ampulheta? Pode ser que eu goste do retangular. Percebem?
Vamos lá! Cada um se expressa da maneira que quiser. A roupa extrapola esses efeitos ópticos, é muito mais do que alongar ou engordar ou achatar. Claro que existem essas ferramentas para quem deseja tais resultados, mas vai além, trata-se da forma particular de expressão de cada indivíduo.
Talvez fosse mais interessante começar a pensar: como posso me expressar da melhor forma? Como vou conseguir transmitir aquilo que desejo? Como eu quero que o outro me enxergue?
Posso querer aparentar ser mais estilosa do que magra... A Maria pode querer transmitir mais credibilidade do que uma altura diferente da dela... Joana pode querer reforçar seu viés artístico ao invés de disfarçar seus quadris... Podem existir questões muito mais relevantes do que aquelas preocupadas apenas se a roupa vai "engordar" ou não.
Vemos mulheres tentando se encaixar em padrões estabelecidos desde que o mundo é mundo, e quando não se encaixam - o que acontece na maioria das vezes - é sempre muito cruel para todas: magras, gordas, altas, baixas. Esse movimento vem quase sempre acompanhado de uma autoestima muito baixa. Quando não temos amor próprio, a preocupação com o olhar do outro é gigantesca, ele nos afeta profundamente, e aí vamos deixando de ser nós mesmas e sentimos sempre a necessidade de ficar nos encaixando, sem sucesso algum.
Quando dizemos a uma outra mulher que ela é gorda ou velha demais para usar determinada peça, estamos anulando a sua forma de expressar, e essa tentativa de anular uma pessoa, por qualquer motivo que seja, é bastante cruel. Quando dizemos isso a essa mulher, limitamos sim o seu direito de escolha. Ela começa a definir as suas escolhas à partir do outro, de modo que ele se sinta menos agredido.
Essa mulher passa a vida acreditando que essas pessoas estão certas, e que, sim, ela é gorda ou velha para aquela combinação. Assim, vai passando a vida carregando essas crenças que as limitam em vários momentos.
Movimentos como "Corpo Positivo" em que mulheres assumem uma postura de afeto com o próprio corpo (Alexandra, do @alexandrismos faz isso maravilhosamente) vem ajudando muitas outras a se libertarem dessas amarras, dessas crenças limitantes que vem, saibam meninas, apenas do externo.
Então, gordas, magras, com celulite, velhas, novas, de canelas finas, de canelas grossas, com barriga, sem barriga... Se expressem da maneira que quiserem, não da forma como outro determina. É você quem comanda as mensagens que deseja transmiti
E se você aí se incomoda tanto com o que vê no outro, talvez seja importante começar a olhar pra dentro de si e se perguntar o porquê. Algo aí dentro está fazendo apontar o dedo pra alguém, quando, na verdade, deveria estar apontando pra você, já parou pra pensar nisso?
Que a gente possa rever tudo isso... Tudo que nos limita e que limita o outro... Está, muitas vezes, nas entrelinhas. Vale a pena prestarmos atenção, vem comigo nessa?
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